quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Aquela velha historia


Tinha que ver ele tentando me convencer que não tinha sotaque, curitibano nato do tipo mal educado que sai com uma blusa na mão mesmo com um sol de vinte e cinco graus (lá não faz mais calor que isso) e eu terminando as frases com leite quente no dente da gente só pra ver a irritação, o franzido na testa e aquela risadinha irônica tentando me convencer que estava nervoso, mesmo eu sabendo que pra vê-lo com raiva mesmo tinha que fazer bem mais que zuar o sotaque curitibano dele.

Nunca fui de desconfiar de ninguém, não sou a louca ciumenta que fuça as redes sociais e dá uma de stalker profissional, eu confio ou não confio. E eu confiei nele, por que achava que podia. Eu sempre tão esperta falando sobre literatura, ciências e arte moderna, me achava a sabe-tudo, olhava no olho dele e tinha certeza que ele era meu e que cada palavra era docemente verdadeira. Burra,burra,burra.

E minha fantasia de amor perfeito caiu naquela tarde de sábado,ele no jogo como sempre, eu idiota resolvi ir lá fazer uma surpresa. E fui surpreendida. Ele não estava lá, perguntei pra uns caras se alguém sabia onde ele tinha se metido e senti o chão afundar quando um deles respondeu: "Ele saiu com a namorada dele, vem jogar só nas quartas agora.” Namorada. Dá pra acreditar? O engraçado é que quando eu comecei a ligar os pontos eu percebi em letras grandes na minha testa: OTÁRIA. Tudo fazia sentido, ele não me deixava ir na casa dele (mãe implicante), quase não saíamos nos finais de semana (ele dizia que estava cansado e eu acreditava).

Rodei meio sem rumo,e resolvi ir no parque que a gente ia sempre, e claro, ele estava lá com ela. O mesmo lugar que ele dizia ser único e especial pra gente. Abriu um arrombo no meu peito. Eu quis sair correndo mas as minhas pernas não me obedeceram e continuaram a andar na direção deles. Parei quando ele podia me ver. O rosto dele parecia de uma criança que foi pega roubando doce da geladeira. Me deu vergonha dele e vergonha de mim por ter sido tão tola. Virei as costas e fui andando como se nem me importasse, claro não me importaria em ver todas as promessas e toda aquela baboseira de até o fim se quebrando ali bem na minha frente. Catei os meus cacos espalhados no caminho de volta pra casa, e esperei ele vir se explicar, eu sabia que ele viria.

Criei o ultimo diálogo que teríamos umas dez mil vezes, ora com mais raiva, ora com indiferença. E depois de uns dias ele veio. Tão previsível. Bateu na minha porta, minha mãe atendeu dizendo que eu não iria falar com ele, então ele começou a berrar na varanda da minha casa “Eu terminei com ela. Ela não me conhece como você, não significa metade do que você significa pra mim, ela não sabe...”- Eu não aguentei e o interrompi descendo as escadas, e com o tom mais alto do que eu gostaria: “Chega C-H-E-G-A! Não quero ouvir mais nada de você,vai embora. Por favor.” Eu o olhei e não conseguia ver mais o cara que eu tinha namorado por oito meses,era como se ele fosse um…um estranho. Eu desci mais uns degraus e falei calma- “Não dá, eu nem sei quem é você. Agora vai,sai da minha casa. Sai da minha vida”. Eu virei as costas, comecei a subir pro meu quarto e escutei a voz miúda dele quase sussurrando: “Mas eu te amo, eu,eu  te amo”.
 Não acreditei nele. Minha mãe me ensinou a duvidar de estranhos. Ele disse que me amava, eu não respondi. Aquela velha historia nem existiu realmente, mas tivesse existido, ali ela tinha acabado de terminar.

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