terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Fatalmente (parte 2)

Acordei com um puta mal humor na segunda feira. Típico. Nem ajeitei o cabelo, fui trabalhar no modo zumbi. Coloquei um casaquinho triste que minha vó deixou lá em casa outro dia, não que minha vó use coisas tristes, mas ela tem 80 anos, não quer arrasar na pista, só quer ficar quentinha, e pra falar a verdade eu também não estava preocupada com qualquer outra coisa. Minha visão de manhã é turva sabe, não é uma desculpa boa pra sair por aí parecendo uma mendiga, mas enfim, não era um dia daqueles que eu iria olhar no espelho e me convencer que sou a criatura mais bonita da cidade.

Pra combinar com o dia ruim, meu carro deu problema e precise deixar no mecânico sendo forçada a andar quatro quarteirões pra chegar no trabalho a tempo. Com um copo de chá gigante na mão, o celular na outra, a bolsa escapando do meu ombro, e o cabelo se soltando do coque, vi o Daniel virando a avenida com o fone nos ouvidos balançando o corpo de leve no ritmo de algum mbp (imaginei), me fez lembrar da primeira conversa que eu tive com ele. Fui ouvir as versões que ele me indicou na mesma noite e acabei gostando, que feitiço era esse que fazia a garota desencanada parecer uma adolescente apaixonada? E apenas nos 15 minutos do primeiro tempo. Era muito cedo pra eu estar me encantando, logo eu.

Olhei pro chão, tentando não encara-lo, mas poxa vida, por que diabos ele tinha de estar tão bonito?Enquanto eu, parecia ter saído de um campo de refugiados da 2º guerra.

- Larissa? Ei, eeeeeei! - ah ótimo, ele me viu.
- Ei! Oi Dani!- é, eu apelidei um cara de um metro e noventa que conheci a duas semanas.
- Como você tá? E sua amiga, Livia o nome dela né? Ela melhorou?
- Eu tô legal, a Livia? Ah sim, tá otima! Ela sempre faz aquilo...E você? Indo pro trabalho a pé também?
-É, não consegui comprar um carro ainda, com a mudança ficou tudo tão maluco.
- Acho que eu entendo.
-(...)

O temido silencio invadiu o espaço. Meu cabelo se soltou totalmente, e a bolsa dependurou no meu braço, e eu fiquei toda torta tentando pegar um coisa e ajeitar a outra ao mesmo tempo no meio da rua. Ele riu, e se ofereceu pra me ajudar. Pegou meu copo, o celular e a bolsa, e tirou uma mecha de cabelo do meu rosto com os dedos, eu tentei levar tudo na maior naturalidade, mas ele era gentil demais, não consegui conter um suspiro. Ele sorriu de canto, esperou eu fazer uma trança bagunçada e me devolveu a bolsa o celular e depois de dar uma golada do meu chá jogou o copo fora.
- Mulheres de verdade tomam café.- Olhei com meiguice e respondi em tom adolescente -Mas eu sou só uma menininha!
Ele me olhou nos olhos e enroscando meu braço dentro do dele, me respondeu com firmeza:
- Eu sei que não é.

Chegamos juntos no trabalho despertando o tititi alheio. Eu conseguia ouvir os burburinhos pelos corredores: " Você viu a Larissa da publicidade? Já pegou o novato de sistemas." Gente que não tem o que fazer fala o que não precisa ser dito. Daniel era bom demais pra ficar no meio do falatório da empresa. Tentei ignorar e fazer o meu trabalho. O dia passou depressa, assim como a semana. Era sábado de novo e eu não o tinha encontrado desde da manhã de segunda. Livia mexeu uns pauzinhos e descobriu que o setor dele tinha ido pra um curso fora da cidade. Aproveitei o tempo pra deixar a mente solta, tentar alimentar meu blog deserto. Fazia tempo que não escrevia, e de algum jeito a presença do Dani me inspirava. Fui pra frente da tela e inventei alguns parágrafos. Escrever sempre me alivia.

Domingo resolvi ir andar de bicicleta no parque com a Livia, odeio me exercitar, mas aquele lugar era realmente bonito e no fim das contas eu acabava sempre me divertindo. Logo que chegamos descobri que Livia no fundo era uma amiga horrível, tinha me levado pra um encontro quase as cegas.Daniel já estava me esperando. Nem a vi indo embora, só fiquei me equilibrando entre o constrangimento e a felicidade.

-Compre um sorvete e ganhe o sorriso mais bonito da cidade, só hoje moça, promoção imperdível!
-Não moço, coisas muito cobiçadas não me agradam não- falei contendo o riso.
- Mas não aceitamos devolução!
-Que roubo, eu nem comprei o sorvete!- ele chegou mais perto, e sussurrou:
- Mas o sorriso já é seu...

Cedo demais pra beijar alguém no meio do parque. Cedo demais pro coração saltitar dentro do peito. Era cedo? Não, já era quatro da tarde pra falar a verdade. E já era quase um amor também. Mas no meio do beijo o quase enroscou num gosto de felicidade inacreditavelmente bom, e eu tive certeza. Pro meu bem ou pro meu mal tive certeza e só amei. Eu só amei.

(Continua)
Parte 1

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