domingo, 14 de setembro de 2014

Meus Meninos


Começa com uma amizade inocente e acaba comigo enxugando o pranto dos garotos que sofrem por um coração partido, corações estes que nunca se esguia pra mim desse modo, só pra outras pernas e olhos e cabelos. E por que? Sou legal demais, sou parceira demais, sou melhor amiga demais. Quando inventaram o termo friendzone, vieram me perguntar se condizia com minhas experiências sentimentais. Sério.

Nunca fui de fazer amigos homens com facilidade, ria de algum comentário, sempre estava por perto dos caras legais da turma, mas não era amiga de sentar e contar os medos e ilusões. Eu, como a maioria, deixava minhas amigas fazerem isto. Me tornei uma ótima ouvinte, a maioria delas me ligava de madrugada pra chorar despedidas românticas, apedrejar o novo affair do ex, descobrir o perfil do bonitinho da outra rua... Eu ajudava, ria e consolava. Mas não sentia reciprocidade.

Com o tempo passando, as espinhas sumindo e novas responsabilidades surgindo, eu fui ficando de saco cheio dos mimimis femininos, da constante falta de tempo pra me ouvir, e dos assuntos sempre tão irrelevantes. Não que eu tenha exterminado o bonde da chapinha da minha vida, mas eu comecei a abrir meu coração pra amizades masculinas que fizeram uma pequena bagunça em tudo. Me tornei expert em fazer amigos homens. Não vou nem citar as vantagens disso, por que são incontáveis. Porém, tem uma desvantagem terrível: morrer na praia da friendzone, sempre.

Tenho amigos que me dão conselhos sobre relacionamentos, tenho amigos que conseguem o telefone dos amigos ( que no final, vão se tornar meus amigos também), tenho amigos que eu gostaria muito de despertar um sentimento diferente mas não consigo. Das vezes que eu fui clara e joguei as cartas na mesa, sempre ouvi o discurso batido de que eu sou linda, gente boa, e que seria besteira estragar a amizade.

Acho que tem muito a ver com meu instinto maternal, estou sempre perguntando da vida, de questões mais profundas, gosto de dar carinho, de cuidar. Acabo me tornando aquela irmã mais velha que dá bronca, que tá sempre ouvindo o chororô e fazendo um cafuné enquanto o cara tá na bad. Fico próxima o suficiente pra ele me considerar da família. Tipo mãe mesmo.

Joguei no twitter outro dia que estavas prestes a viver novamente a frustração de ficar amiguinha do paquera, e uma amiga sabiamente aconselhou: compartilhe música, e não poesia, enxergue a linha tênue entre amizade e amor. Eu tentei, mas sou toda poesia doada. Quando vejo, já arrebentei a tal da linha e estou completamente do lado que não queria estar. Tenho jeito não.

Me perco nos braços de alguns cafajestes vez ou outra pra me livrar da carência, e vou tentando do meu jeito torto transformar qualquer melhor amigo em melhor amante. Vinte anos não foram capazes de me fazer desistir. Sou dessas que tentam incessantemente. Burrice ou coragem? Responda-me se for capaz.


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